A polícia tem cuidado de casos semelhantes, que não são raros no Congresso Nacional
O senador Cid Gomes (PSB) foi às redes sociais, na noite de segunda-feira (3), alertar colegas políticos sobre o uso indevido de suas informações pessoais para a aplicação de golpes. Segundo o seu relato, criminosos usaram dois contatos telefônicos, um com DDD do Ceará (85) e outro de Brasília (61), para conversar com conhecidos do parlamentar como se fossem ele.
“Atenção, deputados (as), prefeitos (as), vereadores (as), secretários (as)! De forma reiterada, criminosos estão tentando se passar pelo senador Cid Gomes para aplicar golpes, usando telefones com DDD do Ceará (85) e de Brasília (61). Hoje o número (61) 98166 5328 tentou aplicar um golpe”, disse.
“Pedimos que fiquem alertas e não respondam, não abram links e façam a denúncia e o bloqueio dos telefones suspeitos. Em caso de dúvidas, procurem nosso gabinete em Brasília ou um dos nossos assessores no Ceará”, completou o senador.
Situação parecida aconteceu com o deputado federal Mauro Filho (PDT) recentemente. Em 17 de maio, ele publicou o seguinte: “Golpistas estão enviando mensagens por meio do Telegram e de outras mídias sociais passando-se por mim ou em meu nome. Não mudei de número! Portanto, se alguém entrar em contato com você de outro número, em meu nome, por favor, ignore. Esse tipo de ação é crime”.
Ao Diário do Nordeste, o pedetista informou que, ao contrário da situação vivida por Cid, os criminosos não buscavam diretamente dinheiro, e sim o contato de autoridades, como o governador Elmano de Freitas (PT) e secretários de governo. Tão logo tomou conhecimento por terceiros da fraude que se passava com seu nome, alertou seus seguidores nas redes sociais sobre o caso.
O deputado disse que as ligações e mensagens fraudulentas cessaram imediatamente com a publicação nas redes e, por isso, não fez nenhuma denúncia formal à polícia a respeito disso.
A prática se estendeu até o deputado federal licenciado e secretário dos Recursos Hídricos do Ceará, Robério Monteiro (PDT). Em outubro de 2023, ele relatou a situação pelas redes sociais.
“Aviso que não há nenhuma assessoria minha ligando para confirmação ou solicitando documentação para quaisquer eventos ligado a mim. Desconsidere e denuncie, pois se trata de golpe, usando meu nome. As autoridades competentes já foram informadas e as medidas cabíveis estão sendo tomadas”, informou.
Ele foi procurado pela reportagem para dar mais detalhes do caso, assim como a Polícia Civil do Estado. Quando houver resposta a matéria será atualizada.
Já no caso de Cid Gomes, segundo a sua assessoria de imprensa, a Polícia Legislativa do Senado Federal foi acionada. A Câmara dos Deputados também dispõe desse tipo de aparato para investigar queixas semelhantes, entre outras atribuições.
Por meio de nota, a Casa Baixa informou que adota “uma série de protocolos de segurança digital para prevenir incidentes de segurança que comprometam a integridade e a confidencialidade” dos seus sistemas digitais. A Câmara não deu detalhes sobre investigações em curso devido ao sigilo dos casos, nem informou quantos casos chegaram à sua Polícia Legislativa entre 2023 e 2024, como solicitado pela reportagem.
“Todos os deputados e servidores recebem constantemente orientações voltadas ao uso seguro das ferramentas disponíveis. Além disso, a Câmara realiza campanhas recorrentes com alertas sobre os golpes mais comuns e orienta os usuários sobre como se protegerem e agirem nessas situações, de modo a manterem um bom comportamento digital”, acrescentou.
O Senado também foi procurado oficialmente, mas não houve resposta até a publicação desta matéria.
Esta não é a primeira vez que o pessebista sofre fraude parecida. De 2022 para cá – Cid foi eleito em 2018 para um mandato de oito anos –, foram sete casos: em julho de 2022, em maio de 2023, em agosto de 2023, em setembro de 2023, em outubro de 2023, em abril de 2024 e em junho de 2024. Segundo a sua assessoria, todos com o mesmo modus operandi.
Nem Cid foi a única vítima no Senado: ao menos onze colegas viveram casos parecidos, mas envolvendo hackers. Entre eles, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa Alta, Davi Alcolumbre (União-AP). Ele também usou as redes sociais para alertar os seguidores sobre a fraude descoberta.
Para efetuar o golpe, os criminosos transferiam as linhas telefônicas para outros chips e, em seguida, enviavam mensagens a diversos contatos pedindo doações falsas. Foi assim que Alcolumbre ficou 12 horas sem acesso à linha telefônica e ao WhatsApp.
“Atenção, meu WhatsApp foi clonado! Muitos contatos estão recebendo mensagens solicitando transferência de valores. É um golpe! Medidas necessárias já estão sendo tomadas”, comunicou Alcolumbre pelas redes sociais, em maio deste ano.
Segundo O Globo, a Polícia Legislativa enviou mensagem aos gabinetes orientando o uso da autenticação em dois fatores para aumentar a segurança dos aparelhos.
“Polícia do Senado informa que foram registradas diversas tentativas de golpes a partir das contas de WhatsApp de Senadores. Aparentemente, cibercriminosos estão conseguindo fazer na operadora de celular a transferência da linha telefônica do chip da vítima para um outro chip, e, já na posse da linha, sequestram a conta de WhatsApp para aplicar golpes”, dizia o comunicado.
Em fevereiro deste ano, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou a Operação Alto Escalão 2 contra um esquema que usava perfis falsos de WhatsApp de políticos – principalmente senadores – para aplicar golpes. De acordo com os agentes, os investigados usavam, principalmente, nome de senadores.
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no Maranhão e no Piauí. O método de contato com as vítimas consistia em informá-las que havia uma doação disponível para eles, mas que deviam depositar certa quantia em dinheiro para pagar o motorista do caminhão que transportaria os itens.
Os criminosos usaram os nomes de políticos de Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Acre, Santa Catarina, Piauí e Goiás.
Segundo Marcelo Crespo, coordenador dos cursos de direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o elevado número de invasões hackers sofridas por senadores no WhatsApp se deve à sua popularidade e facilidade de uso. “As falhas de segurança e a engenharia social são frequentemente exploradas (por criminoso)”, acrescenta.
Os casos listados aqui podem se encaixar nas tipificações de estelionato ou falsidade ideológica, e as implicações podem variar em situações específicas.
“No caso de agentes públicos, pode haver um agravamento, mas não necessariamente uma pena mais rígida apenas pela condição da vítima. A pena pode ser aumentada se houver um grande prejuízo ou se o golpe for praticado contra uma pessoa idosa ou vulnerável”, explica.
Não é novidade que as fraudes digitais têm ganhado novas camadas de sofisticação com o passar do tempo. Para Marcelo Crespo, isso se deve ao aumento das medidas de segurança digitais, que demandam novas maneiras de driblar as autoridades para aplicar golpes. Contudo, ainda há desafios.
“Muitas vezes, as medidas de segurança são reativas e não proativas, e a educação dos usuários sobre boas práticas de segurança digital ainda é insuficiente”, comenta.
“Os usuários podem adotar várias medidas para proteger suas contas, como a autenticação em duas etapas, a verificação regular das configurações de segurança, o cuidado com links e arquivos recebidos e a não divulgação de informações pessoais sensíveis através da plataforma”, orienta Marcelo Crespo.
Fonte: Diário do Nordeste
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Por Ingrid Campos , [email protected] –